A Itália, país da Ferrari - mais tradicional equipe de F1 de todos os tempos - é também terceira colocada em número de representantes na categoria com 100 pilotos até o final de 2006. Curiosamente apenas dois deles conseguiram levantar o caneco de campeão em "mil-novencentos-e-andar-pra-frente". Nino Farina em 1950 no primeiro campeonato disputado e Alberto Ascari, bi-campeão em 1952 e 1953.

Depois disso, necas!!! O país nunca mais viu um piloto levar o título e por ironia do destino apenas hoje liguei o “nome à pessoa” e percebi que dois dos três primeiros grandes Mitos Que Nunca Ganharam Nada são italianos. Riccardo Patrese foi o primeiro a ser contemplado e agora apresentamos o não menos importante Michele Alboreto. Mas não para por aí, a lista de gente que nunca ganhou nada na F1 por lá é muito, mas muito grande!

Antes de apresentar nosso ilustre piloto de forma bem zueira nessa coluna eu gostaria de prestar uma homenagem muito bacana a ele. Michele Alboreto viveu pelo automobilismo até seu último minuto. Foi um estudioso do assunto e mesmo antes de buscar a F1 já havia projetado o carro que corria na Formula Monza em 1976 (sem sucesso, claro). Foi lenda na Ferrari, exemplo de caráter, venceu as 24 horas de Le Mans - corrida mais tradicional da categoria – iria vencer de novo e era uma das maiores estrelas da Audi correndo com o modelo R8 Sports Car, com o qual infelizmente sofreu um acidente fatal em 2001.

Por que ele é um Mito da F1?

Italiano na Ferrari, só ele praticamente...
 

Tyrrel é quase sinônimo de F1, especialmente na década de 70, quando o “escocês voador” Jackie Stewart ganhou dois dos seus três títulos com a equipe apenas um ano após a sua fundação. Méritos para Stewart, claro.

Com mudanças no regulamento de motores a equipe perdeu sua força e entre 1977 e 1982 seguiu no limbo da F1. Nesse ano um sujeito muito peculiar, praticamente o irmão “separado na maternidade” de Mr. Bean, buscou uma vitória no último GP da temporada em Las Vegas. Ele era ninguém menos que Michele Alboreto.

Em 1993 ainda deu conta de levar o carro para mais uma vitória no GP dos Estados Unidos em Detroit. Esta foi inclusive a última vitória da equipe do Sr. Ken Tyrrel na categoria e último sucesso de um motor aspirado antes do total domínio da nova era turbo. Por tal Alboreto colocou seu primeiro pé na história da F1.

Seu sucesso o credenciou para a Ferrari, onde chegou a vice-campeão na temporada de 1985. Tornou-se um dos mais importantes pilotos da equipe e claro, por ser italiano e rápido, foi aclamado pelos tifosi.

Tudo isso sem contar que ainda é o 4 maior recordista de GPs disputados com 215 largadas na F1.

Por que ele nunca ganhou?

Pergunta difícil de explicar essa...

Tudo bem que a Tyrrel dos anos 80 era uma tartaruga de marcha-ré. Mesmo assim Alboreto buscou duas vitórias. Foi pra Ferrari, que na época não desfrutava do sucesso que teve nos últimos anos, porém sempre esteve na disputa de títulos tendo sido inclusive campeã de construtores no ano anterior a sua chegada.

Seu nome era figurinha constante entre os primeiros colocados, não sofria do mal de “segundo piloto” do Rubinho, tinha prestigio com Enzo e nem era azarado igual ao amigo Patrese. Dessa forma fica até difícil entender como um sujeito desses, dedicado ao esporte, simplesmente não deu certo.

Uns nascem para bater recordes, outros para exibir talento invejável, alguns pelo conhecimento técnico infindável e Alboreto para ser um dos maiores figurantes de luxo da F1.

Após 5 temporadas na Ferrari Alboreto retornou para a Tyrrel, desistiu dessa terrível idéia errada antes do final da temporada quando fincou de vez o pé na jaca ao ir para a Larrouse. Trocou a equipe que estava "russo de correr" e foi para a Footwork. Pior pra ele, nem ficção cientifica fazia esse bólido andar. Fechou sua participação na Formula 1 pela Minardi, igualmente ridícula, terminando apenas 6 das 16 provas daquele ano, assim fica um pouco mais fácil ver por que ele não ganhou mesmo.

Qual foi seu melhor momento?

E olha que ele teve alguns!

Minhas memórias mais precisas para as corridas de F1 datam da temporada de 1987. Lembro sim um pouco antes disso, porém por ser muito novo na época foi a partir desse ano que os carros e as disputas começaram a fazer mais sentido. Portanto, o máximo de sucesso de Alboreto que acompanhei foram os dois segundos lugares em 87 e 88.

Porém, um pouco antes em 1985, ano em que esteve na disputa pelo campeonato, Alboreto teve seu melhor momento. No GP da Itália daquele ano os tifosi lotaram o circuito de Monza sedentos por uma vitória da Ferrari em casa.

O sonho durou 45 voltas. Com problemas mecânicos foi obrigado a abandonar a corrida e deixar ali sua chance de levar o título pra casa. Ele ainda não conseguiu completar os 4 GP restantes e largou o título na mão do Professor. Só para citar alguns nomes que estavam nesse disputadíssimo campeonato além de Prost: Keke Rosberg, Ayrton Senna, Nigel Mansel, Nelson Piquet, Jaques Laffite, Niki Lauda, Gerhard Berger, Riccardo Patrese e Alan Jones.

Mas é de se lembrar por que Alboreto sempre foi diferenciado do “galerão” da F1 por sua postura. Quando ainda corria pela Tyrrel foi convidado por ninguém menos que Enzo Ferrari para assumir o lugar deixado por Gilles Villeneuve. A Tyrrel não liberou e devido ao impasse ele mandou de forma muito elegante uma carta a Enzo. Este por sua vez disse “...Quando Alboreto estiver livre de qualquer tipo de contrato, haverá uma Ferrari à sua disposição...”. E houve. Um sujeito que recebe uma declaração dessas é, no mínimo, um mito.

Video: Tributo a Alboreto. Veja, ele merece! (YouTube)